terça-feira, 25 de novembro de 2014

Desvalorização dos profissionais da educação: O lado oculto do fato

 Não é novidade para ninguém que o ramo educacional só se torna financeiramente "retornável", quando o professor ou leciona em universidades, ou abre um curso(seja preparatório ou de isolada). Enquanto que os professores de base, ou mesmo de nível fundamental e médio são bastante desvalorizados financeiramente no país, se levarmos em conta uma comparação com países próximos como Uruguai e Argentina.
 
 Muito se fala do investimento massivo do Estado brasileiro na educação pública, que apesar de ainda frágil vir crescendo gradualmente ao longo dos últimos 12 anos. A educação pública brasileira vive de duas realidades bastante distintas: A primeira é a superior. Esta oferece muito conforto para os estudantes, bolsas que incentivam permanência, pesquisas e aprofundamento dos graduandos no meio acadêmico, investimento em pesquisas superior aos de muitas Universidades tops do mundo, e, é claro, os melhores alunos do nível médio nacional; A outra realidade, porém, é sofrível. A escola de base, fundamental e média brasileira não só a nível público aparece muito distante de níveis tolerantes para uma educação de qualidade. Falta escola, falta conforto, falta qualificação profissional, falta leitura, falta mesmo alterar a visão atual à cerca dos estudos. Sim, isso vem com a educação de base.

 Esse discurso todos já conhecem, e, de fato é uma peça fundamental para a construção de uma educação pública sólida no país. Porém, se por um lado a educação pública é questionada, por outro o âmbito privado segue inquestionável de seus erros e abusos.

 Após um longo período de seca de revoltas e levantes populares no país, 2013 surgiu como uma luz no fim túnel. O brasileiro demonstrou indignação com a corrupção, com a política, com a educação, com a saúde e o pivô de tudo... O aumento dos preços de passagem de ônibus. É preciso lembrar ainda que quem aumenta o preço das passagens não é o estado, mas sim a iniciativa privada que divide os lucros do transporte público com o governo estadual. Em Recife, após ter sido anunciado o aumento, Eduardo Campos então governador de Pernambuco cedeu parte do lucro do governo para a iniciativa privada, para que assim o valor da passagem não aumentasse.

 É dentro deste panorama que o Brasil vive(não sei se isto é um fenômeno universal) que ocorre a santificação da Iniciativa privada. Os escândalos públicos sempre estão à frente dos privados, as atrocidades e injustiças da iniciativa privada são omitidas pela mídia e é vista à grossos olhares pelo Estado. Dentre as 100 maiores economias do mundo, 49 são empresas e 51 são países. A iniciativa privada monopolista tem nadado no lucro e criado fantasias nos consumidores. Uma transnacional que se preze faz propagandas com questões ambientais e sociais em pauta. Esses pontos são fatos perceptíveis na sociedade. As razões por trás não arrisco, nem petisco. O estranho é que do ponto de vista do direito pouco também se tem feito para acabar com os monopólios e essas aberrativas desigualdades sociais do Capitalismo, onde centenas de transnacionais conseguem ter mais dinheiro que pedaços de países com população de milhões de pessoas.

 É nessa onda de crítica à iniciativa privada que quero escrever sobre a desvalorização do profissional de educação.
 Vou fazer um cálculo baseados no que presenciei dentro da escola. O cálculo é sobre extração de Mais-valia. Um tema que muitos dizem já ter sido ultrapassado no mundo contemporâneo, mas que segue a mostrar sua faceta nesses momentos.

 Primeiro os cálculos:
 No ensino médio estudei em numa escola que cobrava mensalidade de 210 reais com cerca de 70 alunos na turma. É preciso considerar que tinha cerca de 4,5 horas-aulas diárias, cerca de 90 horas-aulas mensais. E, por fim, é preciso também considerar que a hora aula-média dos professores custava 25 reais para a escola.

 Números:
 210(mensalidade) * 70(número de alunos na turma) = R$ 14.700,00  gerados pela turma em um mês. Dividindo este número pela quantidade de horas aula mensais(90), obtém-se R$163,3 gerados pela turma, por cada hora de aula. Subtraindo os 25 reais que vai ser utilizado como pagamento ao professor você tem o lucro médio da empresa na turma: 163 - 25 reais =  R$138,3 por hora-aula. Em média 84,8% do que era arrecadado naquela turma ia pro bolso da empresa, enquanto apenas 15,2% ia em forma de pagamento para o professor. Logo o lucro mensal(considerando como despesa apenas o salário do professor) é de R$12.447,00 para a empresa.

 Em média, 84,8% ficou na mão da empresa como lucro e 15,2% dos R$14.700,00 gerados por aquela turma virou salário para os professores. Claro, o colégio tinha custos mensais como segurança, limpeza, luz, água, funcionários de administração e etc. Este lucro também era usado para pagar os outros custos. O salário do professor é muito mais baseado pelo salário mínimo, que pelo quanto ele, de fato, produz.

Pouco se questiona o poder desproporcional das instituições privadas no campo do trabalho. Pouco se fala no tema mais-valia, o tema parece ultrapassado, quando não cansa de mostrar sua face. Sem mais-valia não se produz lucro, sem lucro não existe Capitalismo(da forma que o conhecemos).

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